Agora nem nómada, nem emigrante.


segunda-feira, maio 28, 2012

O amor acontece #5 (por James Dillon)

"O amor acontece,



     «Amanhã vou encontrar-te, de esquina em esquina, em estradas marcadas pelo tempo, por neblinas Sebastianistas te encontrarei, por trilhos fechados com cadeados de puro ouro ornamentados de pedras preciosas invioláveis, mesmo assim persistirei para te encontrar, amanhã desfraldo velas latinas numa casca de noz e lanço-me por oceanos pejados de borrascas, amanhã, é amanhã.

     Maquiavel pergunta-se "como posso libertar um povo que prefere a escravidão?," destas amarras não quero ser libertado, aqui e agora prendam-me uma âncora ao pescoço e atirem-me borda fora, janela fora, torturem-me: mil dores de ácidos colados a esta minha pele suja são irrelevantes se no fim da equação viro a esquina pela milésima vez e me sorris em longínqua proximidade, mesmo que te reveles uma mera miragem alimentas esta alma perdida entre afagos e suspiros, sofregadamente brado por teu toque em minha pele encarquilhada devido a uma megera de metafísica que insiste empurrar-me na direcção oposta.

     Ontem desprezei-te e vi-te partir sem um olhar para trás, segui teus passos e o meu peito uivou de dor enquanto a distância aumentava, mal o olhar se cruzou pela última vez percebi o erro das minhas acções, incongruência de um coração que não encontra seu lugar neste corpo, dor e confusão numa relação simbiótica, os erros surgem e tarde demais abro os olhos, agora, sento-me neste quarto vazio próspero em recordações tuas que só para mim fazem sentido e olho para o horizonte, meu horizonte, ignoro inúmeras fatalidades de uma cidade imbuída no caos, desprezo gritos de ajuda, suspiros de dor, crises de existência, o único ponto é aquele foco contínuo de luz que marca teu lugar e para onde vou, ao longe meu farol que partiu por pedido e agora não regressa nem com suplica, arrependo-me prostrado de joelhos e lanço maldições e palavras de escárnio a não outro que a mim e à minha indefinição, sem um braço, sem uma perna, sem alma, sim, sem este pedaço no meu peito, com esta dor inatingível não, enrosco-me para chorar mas nem isso me concedem.

     Reúno comigo em concílios internos, em redundâncias líricas desligadas de conexão porque o sentido de A mais B foi suprimido com a ausência da razão pela qual me entregava à necessidade de absorver oxigénio, falo comigo próprio em busca de motivos para com surpresa encontrar seres minúsculos dentro de minha pele em convulsões confusas, em sistematizações desligadas de senso, em busca por algo mais, relembro as minhas queixas, relembro os meus motivos para te pedir para partir, e agora na sapiência tardia questiono uma existência que se revela vazia: sem o teu corpo para tocar, sem o teu respirar para sentir no pescoço, sem a tua pele para arranhar enquanto dormes, sem o teu apoio para escolher que norte seguir, sem a tua companhia para me tornares uno e completo, sem ti rumo para o fim do mundo, entrego-me ao oblívio, caio em redundâncias enquanto dou trinta e três voltinhas por minuto para nunca encontrar saída. Por favor regressa e trás contigo meu coração rendido caído algures no trilho. Por favor regressa e torna-me completo, por favor volta e acalma a tempestade em minha mente, por favor atira-me uma corda antes que o convite para o mundo de Dante se torne irresistível."»

James Dillon


P.S. Confesso que esta participação me surpreendeu. Continuo muito agradecida por partilharem as vossas ideias e sentires neste blogue, que se curva agora perante James Dillon.

Eli

:)

Post agendado

13 comentários:

James Dillon disse...

Um obrigado Eli, que possas celebrar mais sete ou setenta anos,


cumprimentos,
JD

S* disse...

Realmente, só o amor nos dá a plenitude. Só o amor nos torna inteiros.

James Dillon disse...

Eli muito obrigado por uma visita tão longa e rica ao meu pequeno canto,

dispõe,


cumprimentos,
JD

Eli disse...

James Dillon

Caro James, que os possa celebrar sempre rodeada de pessoas que me façam sentir feliz. :)

E... sobre a visita... nada que já não tivesse feito. Escreves "bem demais para mim". :)

Eli disse...

S*

Só o amor verdadeiro, seja de que forma for...

:)

Cristina Oliveira disse...

Um belo texto e muitos parabéns pelo blogue!

queriadeti.blogspot.pt

Eli disse...

Cristina Oliveira

Agradeço em nome do James D.

:)

James Dillon disse...

e eu agradeço em meu nome,

obrigado,


cumprimentos,
JD

Eli disse...

James Dillon

Desculpa ter agradecido em seu nome. Vi que não o deveria ter feito sem o seu consentimento.

James Dillon disse...

ora essa, tanta pompa,

dispõe,

cumprimentos,
JD

Isa Ribeiro disse...

Magnífico.. Admira-me todo o conjunto de conceitos utilizados (e que bem utilizados) e adaptados ao contexto das vivências particulares..
E o mundo de Dante ha-de ser sempre irresistível enquanto existir amor nesta Vida. :)

Eli disse...

James Dillon

Embora nem sempre acerte, tento ser correta.

:)

Eli disse...

Ciara

Os leitores do meu blogue são mesmo excecionais! Parabéns! :)