Era uma vez um Sentimento. O Sentimento tinha duas partes. Ele mantinha-se resguardado, com medo e não se deixava mostrar!
Um dia, resolveu fazer parte de um homem. Este sentiu-se muito feliz, pois tinha finalmente parte de um Sentimento para entregar a alguém.
Certo dia, apaixonou-se perdidamente. Resolveu então partilhar com uma mulher, metade de si. Entregou-lhe Parte do Sentimento. Este ficou muito feliz, pois a sua vida estava a fazer sentido finalmente! A Outra Parte (mulher) aceitou o sentimento de bom grado, ficou feliz, mas guardou-o na gaveta para usar quando achasse necessário. No primeiro dia, usou-o várias vezes para telefonar a ele. No dia seguinte, usou-o apenas para escrever uma carta ao homem. Passado uma semana usou-o para fazer sexo. Na semana seguinte, o sentimento começou a ficar sempre na gaveta.
O homem, por sua vez, usava sempre o sentimento. Transmitia-o a toda a gente com um sorriso. Notava-se bem que não se envergonhava de sentir. Cada vez que ia às compras, as pessoas diziam-lhe: "nota-se bem como está animado há uns dias, parece mais leve...". O homem sorria, os seus olhos brilhavam e prosseguia. Quando fez amor, achou que estava finalmente no auge da felicidade, mas não compreendia, porque é que a Outra Parte do sentimento não se manifestava de maneira semelhante, no entanto, não disse nada, para que o sonho de que o Sentimento prevalecesse em si não desabasse...
Passou um mês e a mulher esqueceu-se do sentimento. Enviava mensagens ao homem, beijava-o, mas deixara o sentimento na gaveta. O homem trazia o sentimento com ele, mas sentia-se cada vez mais triste sem saber porquê... Resolveu então perguntar à mulher pelo sentimento: "Amas-me?" e ela respondeu: "Não sei, não me lembro de que era o Sentimento que me entregaste." As lágrimas do Sentimento do homem cairam-lhe pela face... ela largou-lhe as mãos não compreendendo o porquê de não sentir.
Quando voltou para casa, abriu uma gaveta para queimar um pouco de incenso e descobriu lá o Sentimento que o homem lhe tinha dado. Estava morto.
O Sentimento só sobrevive a tudo e todos (distância, espaço,...) se for mantido no coração.
Assim acontece com o Amor, a Amizade, a Raiva, a Esperança...