Agora nem nómada, nem emigrante.


quarta-feira, abril 27, 2011

Cultos

- Oh, professora, por que é que os homens lêem o jornal?

- Para ficarem cultos.

(Eli)

:P

sábado, abril 23, 2011

Longe


Às vezes tenho a sensação que não posso ser feliz durante muito tempo. Há-de haver alguma coisa que faz com que o factor sorte se distancie. Não, não sou uma vítima. Pelo contrário. Sou uma mulher lutadora, que comete erros, que gosta de falar sobre eles para que sejam superados. Reconheço o valor do outro e admiro-o. Na verdade, a minha admiração pelo outro tem muito a ver com a sua vida e pouco a ver comigo. Gosto de pessoas que vivam a sua vida e que se saibam superar a si mesmas, não se ficando tacanhas à espera que a vida lhes aconteça sem fazer nada por isso. Quem me conhece bem, sabe das minhas lutas e do meu prazer na comunicação. Porém, poucos que privam comigo lêem o que escrevo. Às vezes, penso que quando estou a falar disso, esperam que eu acabe, porque é um mundo à parte, por isso acabo por evitar o assunto. Este é extremamente importante para mim, porque as palavras saciam-me e fazem-me bem, tão bem. Por isso é que valorizo todas elas, inclusive as minhas, onde deixo que a minha alma transpareça, embora deixe o mistério presente, tal inevitável para mim. Tenho a sensação que estou sempre longe. Parece que a separação entre mim e os meus é algo inevitável e quase desejável para que tudo corra bem. Gosto muito de sentir que reuno em meios de comunicação (internet e telemóvel) alguns contactos fulcrais. Ou seja, mesmo que seja a tal nómada assumida, também tenho alma de eremita. Estou tão bem entre as pessoas, como depois me resigno àquela solidão que acaba por ser necessária. O longe permanece sempre para os que querem que permaneça. Mesmo quando estava nos Açores, eu sentia-me próxima de algumas pessoas com quem falava (quase) diariamente, numa companhia cúmplice que até hoje mantenho. Como tal, todos os que fui conhecendo ao longo do tempo em que vivo têm ainda um papel fulcral. Quando eles querem ir "embora", às vezes pergunto-lhes porquê e aceito as suas decisões, porque posso querer estar perto de todos, mas não devo, nem é possível e aceito a condição de todos aqueles de quem gosto, pois meu coração é imensamente grande. Eu deixo-os ir. Só volta quem realmente quer. Acima de tudo gosto de ser bem tratada. Sei que todos gostam, mas a pior coisa que pode acontecer é alguém de quem goste se zangar comigo. Fico muito triste. Um distanciamento lógico de um amigo é aceitável, mas um afastamento de quem gosto sem razões, sem explicações faz-me reflectir sem parar. Parece que não descanso bem. Um dia, um amigo muito importante para mim (ainda hoje o é) chateou-se comigo e disse-me porquê. Ele tinha razão, eu tinha feito uma coisa que não devia. Na altura não tive consciência, mas quando ele me disse, eu aceitei, pois tinha razão. Pedi-lhe desculpa e nunca mais o voltei a fazer. Já passaram anos e ainda me lembro disso. A sensação foi horrível. Gosto de falar e esclarecer as coisas. O meu amigo perdoou-me. No entanto, enquanto não o fez, andei mesmo em baixo. Eu sou assim e lido com o Longe desta maneira. Tudo depende, é certo, mas quanto mais gosto das pessoas mais as procuro e gosto do tal feedback.

Eli

sexta-feira, abril 22, 2011

Procuro


Desceu a noite, meu amor, desceu
Tacteando, procurei um beijo teu
Que faríamos nosso, uma vez mais

Desceu a noite, meu amor, desceu
Subiu o dia, escondido num bréu
Prometeste o beco entre mãos fatais

(...)

Eli

quinta-feira, abril 21, 2011

Segunda Maldição


Seu corpo adormeceu eternamente, mas sua alma bebeu da lama e renasceu, tal Fénix fosse se assim existisse. O seu cavalo preto ganhou luz e brilho. Passou a vaguear o mundo à procura da maldição. Logo depois se apercebera que a maldição teria sido morrer sem conhecer o amor, aquele bravio que agora via em tons escarlate a vaguear nos corações humanos. Descobrira gentes porcas a fazer amor com a alma e gentes limpas a consporcar o nome do Amor. Afinal, aqueles que o faziam, sentiam-no, tal era o tom da cor.
Aquele homem, outrora menino, com mãos de anjo e lábios de veneno, procurava renascer, reencarnar, mas não conseguia.

Certa noite, vagueava entre os incensos de uma Páscoa anunciada e umas rezas malditas entre sussurros labiais... Repetiam-se nomes. O Norte, de súbito, baixou e o Sul esquecido ficou. Sentiu-se repelido das orações e ajoelhou-se. Prostrado, proclamou-se e penetrou nas entranhas de uma mulher. Logo depois, sentiu uma enorme dor. Era do nascimento. Nasceu de novo. Quando abriu os olhos, o tom escarlate estava por toda a parte. Nunca saberia distinguir os falsos dos verdadeiros, mas tinha um corpo. Tinha vivido séculos em assombração.

Eli

quarta-feira, abril 20, 2011

Maldição



Era uma vez um menino. Era maldito. Nasceu assim. Cresceu assim, como que assombrado por uma informação que lhe foram passando dia após dia, década após década. Nunca fora adorado, nunca desejado, nunca sequer maltratado, não fossem os deuses descerem à terra e vingarem-se. Por detrás de um olhar escuro, escondia-se uma sombra sombria. Sua mãe esquecera-o logo no berço, ainda amamentava e já o leite lhe escorria pelos seios, tal era a falta de amor que lhe transbordava... aqui nem era água, seria uma mescla esbranquiçada.

-Mas, por que não o alimentas.
-Meu alimento não o sacia.

Os negros olhos da criança foram perdendo o brilho e cresceu pelos montes, olhando de soslaio os humanos. Sentia-se um cavalo. Era livre como eles.

Sua famíla de gentes abastadas de pobreza de espírito deixava um caldo e um naco de pão à porta dos estábulos... não... eram currais mesmo.

Foi mandado para a escola. Aprendeu a ler e só aí descobriu que nem todos eram como ele. Estranhamente se sentiu especial. Tinha qualquer coisa que os outros não tinham.

Um dia, chegou à escola montado num cavalo bravo e todos lhe fugiram. A fama de tolo ganhou finalmente proporções maiores. Então, fugiu. Escapar a toda aquela merda foi um toque de desolação por não terem mais quem lhes limpasse o esterco, mas também um alívio-

- Que leve a maldição com ele.
- Qual maldição?
- Não sei.

O padre tinha dito que aquela marca no pescoço era do demónio. Havia uma lenda. Quem assim nascesse traria décadas de horror à sua terra. Porém, que se tinha livrado da porcaria, com quinze anos mal feitos foi aquele pobre rapaz.

Fez-se soldado quando encontro outros pelo caminho. A sua destreza em dominar cavalos selvagens trouxe-lhes uma grande fonte de rendimento. Nunca tinham visto a sua marca. Estava tapada pelos longos cabelos, que assim como a barba, foram crescendo dia após dia. Cortava as pontas com a sua velha navalha.

Certo dia, estava a dormitar junto ao rio, com o chapéu a tapar-lhe a cara, quando ouviu um barulho.

O som de um tiro e logo a seguir a morte. O falecimento...

Eli



Este espaço começou com o lugar dos seguidores "há pouco tempo" e conta com cem. A quantidade não é significativa. A a maioria dos que vêm cá ler mais vezes não é seguidora e nem deixa comentário, mas vivo bem com isso, porque a aceitação faz parte da minha condição.

Porém, não posso deixar de agradecer ternamente aos que comentam, muitas vezes sem eu merecer.

Seis anos de blogue. Esta é a minha casa mais duradoura, mais minha e a que me conhece mais intimamente. Sintam-se convidados a partilhá-la. Há várias divisões, imaginárias, mas nunca deixando de ser eu que as descreve, assim como o que se lá passa...

O amor acontece.

sexta-feira, abril 15, 2011

Etapas

Imagem de Eli

Voltei a colocar a música, uma vez mais, uma vez mais, repetindo como se não houvesse exaustão.

(Fitas-me.)

Olho de soslaio para uma recordação solitária e viro-lhe a cara, porque não preciso dela. Tenho-me em olhos escuros... quase sombrios. Vejo-me, sopro-me, abraço-me, porque me deixo ser quem sou, sem receios. Passeio despida de preconceitos, ambivalente, persistente. Um passo mais, uma caminhada... Olhos postos no horizonte. Sobrevivo àquela mágoa que me impediu de viver por momentos. Meu coração voltou a bater. Clique. Não sei explicar, mas existe. Existes.

São as cores da música que me inspiram, me trazem paz e me elevam a Alma. Tenho. Sou.

Um demónio aproxima a sua voz do meu ouvido cantando-me as letras, aquelas... e eu teclo errante uma pele tacteada... ensino o que não sei e digo o que não quero. Confusão. Paixão... E... Suspiros entre mágoa. Sensibilidade, aprendizagem... Quão mortal sou!

sexta-feira, abril 08, 2011

Meu coração


Meu amor, como poderei eu dizer-te o quão o meu coração bate por ti?!

Escrever que estou apaixonada por ti, sacia-te. Não. Vá, diz-me, sacia. Sim. Apenas num momento e prontamente pedes mais e o muito nunca chega, nem quero que tal alma nómada páre noutro sítio senão o caminho à raiz, do coração. Teu. Meu. Nosso. Falo, escrevo, ouço... a música no coração. As vibrações bastam por um milésimo de segundo, pois logo a seguir a palavra saudade bate-me à janela, à porta...

Adoro-te.

Na beleza de um sorriso, no amor de um olhar, na perspicácia de um abraço, nos dedos de uma mão aprendiz de mim... com ou sem reticências, és sangue que me corre na alma.

Eli

:))

Ondas


Mastigas... aquele alimento. Umas reticências... metade pensamento, metade emoção. Mistura. Desconcentração. Pétalas que hão-de vir junto à pele. Aquelas que vão. Foram em duas ondas gigantes de abraços que procuras aí, tendo-as aqui. Não em dupla, mas tens. Serão as noites vindouras. Todas. Vem. São as palavras a chave de um sabor, aquele. Fruta, frio, paixão, perdição. Encontro. Again, and again. Espiral de indas e vindas, olhar. Ondular...

Sentidos exaltados. Gelo que faz arder. Sonos trocados. Fonte de prazer.

Eli

:)

quarta-feira, abril 06, 2011

O jarro

Pequenos gestos, que não ignoro, mesmo que não façam a maior diferença de todas. Hoje de manhã, fui trabalhar sem vontade, sentia-me mesmo em baixo, sem forças psicológicas. Quando cheguei à sala, uma menina esperava-me com um ramo de flores colhido e amorosamente amarrado com uma prata.

- Oh, professora, aqui tem isto, porque põe nódoa, é para não se sujar.

(Sorri carinhosamente.)

Apressei-me a agradecer-lhe com beijinhos.

- Sabe o que é isto?

- Sei, é salsa!

Um jarro e salsa a fazer um raminho. Seguidamente, entregou-me uma concha em forma de coração. Naquele momento não duvidei mais, aquilo era mesmo para mim que sentia o coração assim, num estado triste, mas ela nem imaginou. Apenas foram as suas mãos puras que me trouxeram tal beleza.

Aquela flor que que só conseguia ver em tons de cinza foi ganhando cor durante o dia. Parece que o Universo adivinhou-me e conspirou para que o meu estado melhorasse. Várias pessoas (sem saberem de mim) apareceram pelos vários meios de comunicação habituais perguntando-me como estava (estou) e visivelmente a minha resposta começou a melhorar consideravelmente. Até aquela formação que pensei que hoje não me traria nada de útil me conseguiu surpreender.

Na verdade, há um brilho na minha vida que não quero que se apague. Pelo contrário, é uma luz que me faz caminhar preenchida. Assim, estou eu, pronta para a caminhada, a viagem.

Eli

:)

sexta-feira, abril 01, 2011

Promessa




Às vezes, acordamos com a sensação que o mundo está lá fora e não cá dentro. Temos a ligeira impressão que se ficarmos na cama, escondidos, nada nos vai afectar. É uma sensação de protecção e conforto. Só depois nos lembramos que o mundo está mesmo ali, dentro de nós. Ele acontece. Move-se a cada gesto, seja por que motivo for. Os objectivos são os mais variados. Se for um dia em que tenha que acordar quatro ou cinco horas mais cedo, o que implica que durmo menos essas horas, acordo com uma sensação de dever incrível e a obrigação é a motivação maior, aliada à responsabilidade dos compromissos. Estes são uma espécie de chave de segurança, embora enganadora, porque eles só existem verdadeiramente enquanto os sentimos. Por isso é que não gosto de promessas. Estas são absolutamente desnecessárias. Se acreditarmos em alguém, não será pela palavra "prometo" que ela terá mais motivação para cumprir aquilo que quer ou se predispõe.

Eli

:)