Agora nem nómada, nem emigrante.


quarta-feira, maio 16, 2012

Viagens




Às vezes... quantas e quantas vezes... penso... que a vida é como uma viagem.

Há bocado, pensei que  - a vida - fosse como viajar de autocarro, mas os enjoos fizeram-me esquecer a analogia. Voltei logo ao comboio. Queria voltar a ler no comboio. Foi ele que me salvou - de um sufoco - numa das mais difíceis fases da minha vida.

Uma vez, num sexta-feira, já em abril, fui colocada num recôndito lugar de Lisboa. Então, só para não perder o tempo de serviço, resolvi ir à capital só para me apresentar. Afinal, nesse ano letivo só ainda tinha conseguido trabalhar um mês. Portanto, nessa sexta-feira, pus-me a caminho. Fui de carro até Aveiro. Apanhei o intercidades e, à chegada, solicitei o serviço de um taxista, dizendo-lhe para se dirigir à Amadora. Quando lhe especifiquei a morada para a Brandoa, ele disse que se soubesse que o objetivo final da viagem era esse lugar, não teria ido e que havia colegas seus a pensarem como ele. Só não me deixou ali mesmo, porque as minhas palavras (chamem-lhe "lábia") já nessa altura me valiam de muito. Então, apresentei-me na secretaria do Agrupamento onde iria fazer (mais uma) substituição temporária. Ao apresentarem-me à direção (coordenadora), inteiraram-me da turma, problemas, afins. Eu, sempre guerreira, sempre achei que podia tudo... mas esta experiência deu rios de outras coisas que não eram bem letras. Portanto, por falar em viagem, liguei ao meu irmão, que se tinha prontificado para me ir buscar. Expliquei-lhe tantas vezes onde estava "Brandoa, ao lado da igreja, junto a um largo..." e ele dizia que estava lá, no mesmo sítio que eu. Depois de umas (pelo menos dez) chamadas, ele apercebeu-se que estava na Reboleira e que eu não estava no mesmo sítio que ele, afinal. Deve ter perdido a tarde de trabalho para me ajudar. Pelo caminho, em direção à estação do Oriente, apercebi-me que ele tinha perdido muito tempo precioso no seu trabalho. Portanto, deixei-lhe uma nota no carro, para tentar compensar pelo menos o gasóleo... Cheguei a casa já à noite, depois de ter apanhado o carro em Aveiro. Quando aceitei a minha colocação, na aplicação informática, já passava da meia-noite. Algum tempo mais tarde, quando me deram o contrato para assinar, vi que este começava ao sábado. Tentei inteirar-me da causa, ao que me foi explicado, pela primeira vez, que afinal já não contava o dia da apresentação pessoalmente, mas sim o da aceitação na aplicação informática, para efeitos de início da contratação. Portanto, fui a correr para Lisboa, no próprio dia em que fui colocada, para ganhar três dias de serviço, mas só ganhei dois. Se tivesse ficado em casa, teria ganho três dias e não teria perdido, tempo, dinheiro... Valeu pela experiência, pela aprendizagem e, nos dias que correm, esse é o meu verdadeiro valor: aquilo que já vivenciei. 

Eli

6 comentários:

S* disse...

O que fica são esses momentos, essas viagens que nos marcam.

Eli disse...

S*

Tenho muitos, só opto por não os escrever aqui... :) Ficam como processo de aprendizagem, sobretudo. :)

James Dillon disse...

Caindo no inócuo da redundância, uma viagem por mais curta que seja a demanda acaba sempre por ser um caos aleatório de absorção de novos conceitos e ideias, chega a ser perigosa na medida que coloca ao nu a ignorância (benigna acredito) que absorvemos num mundo fechado mas pejado de opiniões formadas por terceiros.

No entanto subsiste algo de especial nas viagens de Comboio, falo por mim correndo o risco de revelar quando não quero, mas um dos meus vícios (pensando agora bem de cariz tenebroso e invasivo) é um hábito de me sentar e passar uma viagem em constante observação de quem rodeia, tentando retirar conclusões fundamentadas por mera observação e raciocínio analítico, a partir do cabelo, da poeira no casaco, da sujidade nas unhas, no cheiro que emana, (cada vez me parece mais escuro o que comento), em toda a medida encaro sempre a viagem como uma maneira de ler o quão diferente é o próximo, que gostos tão diferentes, que fala tão alto/baixo ao telemóvel, que usa/não maquilhagem, que penteia/não o cabelo, que usa cinto ou não,

(...), (...),

é o verdadeiro cariz aleatório da condição humana a revelar-se sem filtros ou censuras por nada mais que o mero acaso e coincidência.


Cumprimentos,
J.D.

Eli disse...

James D

Uma viagem pode ser comparada a qualquer processo vivenciado ao longo da nossa vida, senão vejamos: um trabalho, uma relação (seja de que tipo for), um processo de observação... quiçá nos cruzámos já por aí... afinal, "o mundo é muito pequeno". É mesmo, mas também muito grande...

:)

Manuel Luis disse...

Ainda bem que reconheces esses valores depois de enfrentares esse agrupamento de aventuras, onde as pessoas são um nº e o cliente mais um.

Eli disse...

Manuel Luís

Talvez sejamos só números aos olhos dos outros, mas cada um de nós tem tantas hstórias... nada disto é simples!