Agora nem nómada, nem emigrante.


segunda-feira, junho 04, 2012

Coisas pequenas

Um dia destes, numa tarde descontraída, andava eu às compras no supermercado, quando fui espreitar a zona do peixe, coisa rara, visto não ter dinheiro para esses luxos (refiro-me a peixe fresco). Deparo-me com uma cena: uma senhora que estava a ser atendida, pedia à outra que trabalhava na peixaria para colocar várias enguias na balança. Vai daí, pede ao filho (que tinha cerca de doze anos) para ir confirmar com o pai se podia levar as enguias, que já estavam no prato da balança, atenção. Pouco tempo depois, aparece o filho a dizer que não. Então, a senhora que trabalhava na peixaria, com seu ar de nem sei bem que pense, perguntou se podia ir ali atender outra família que estava a escolher peixe congelado. Entretanto, aparece o pai e a senhora olhava para as enguias e dizia "ah, eu queria tanto", o filho dizia o mesmo e eu fiquei com pena. No entanto, logo a seguir, ouço o pai a falar em algo relacionado com o dinheiro. Na verdade, não sei bem o que pensar. Por um lado, fiquei com pena, mesmo, por ter que retirar as enguias já pesadas e voltar a colocá-las em exposição. Por outro lado, não sei se aquilo era mesmo "pobreza", no sentido de serem comedidos ao máximo, ou se era coisa do pai ser autoritário. Uma onda de pensamentos levou-me dali para fora, depois de ter feito o meu pedido. Hoje, ao ler o blogue da S*, lembrei-me disto. Nós nunca sabemos o que se passa na casa dos outros. Não venho aqui julgar, mas refletir. Se eu não fosse ensinada a poupar desde sempre, não saberia como fazer render "o peixe" (leia-se a comida e o dinheiro). Se não há trocos para iguarias, come-se sempre o que houver de mais barato e haja imaginação para nos reinventarmos. 

Eli


10 comentários:

James Dillon disse...

Subindo, erguendo-me num cavalo que olha de canto para o que é mundano, reparo que ninguém consegue criar no real sentido, inovar, se tiver que contar os tostões, se tiver que se preocupar com mil questões potencialmente fatais que o poderão levar a ter que suportar noites sob a chuva, falo por mim, longe de me imaginar uma mente criativa, mas se as preocupações se escondem seja por vontade própria, seja por contexto, seja por meu esforço em alterar a minha percepção posso simplesmente descontrair e criar, seja o que for, bom, mau, não interessa, quanto mais suprimidos, quanto mais preocupados mais estagnados,


cumprimentos,
JD

S* disse...

Isso é triste... mas a verdade é que a enguia não é propriamente barata... e a senhora devia ter consciência do que tem na conta. :/ Quando me mudei para a minha casa, em tom de gozo disse que, se a coisa apertasse, poderia comer atum todos os dias. Na altura caíram-me em cima, dizendo que eu era imatura, que não sabia o que era a vida. Ora bem... eu sei é fazer contas! Apesar de não ser grande coisa a matemática, sei gerir as minhas finanças. Sei que o bacalhau é caro, que o atum em lata é barato. Sei que bife do lombo é caro, frango é barato. Por mais que nos custe, a vida não está fácil e há que saber onde se deve fastar dinheiro. Querer comprar várias enguias (atente-se no plural) e não ter dinheiro para elas parece-me, tal como referiste, um luxo. É triste que as famílias tenham de abdicar desses pequenos mimos, mas infelizmente a vida não o permite.

James Dillon disse...

Massa com atum e queijo, a refeição diária dos meus tempos de estudante,


cumprimentos,
JD

Eli disse...

James Dillon

Na verdade, nunca sabemos mesmo o que se passa do lado de lá, no desconhecido. Preocupa-me muito certo tipo de questões, quando se toca à falta de capacidade de deixar para trás certas coisas que já nem eram luxos.

Enfim, não precisamos de ser criativos para percebermos certas coisas, pcincipalmente quando nos tocam, ou já tocaram.

...

Eli disse...

S*

Eu acho excelente ter a capacidade de gerir um orçamento e não sair dele, nem cair em tentações desnecessárias. Aliás, mesmo não fazendo contas, sabemos muito bem quando algo é exagero. Não é por acaso que trago todos os dias comida e, ir a um restaurante, mesmo gastando menos de cinco euros, uma vez por semana almoçar, já é ter consciência que não se pode passar daí para não faltar noutras coisas, principalmente quando perdemos o direito ao subsídio de férias que dantes pagava a conta do seguro, à qual não posso mesmo escapar...

E muito mais havia por dizer...

Eli disse...

James Dillon

Nem imaginas a capacidade que eu tenho de reinventar, principalmente omoletes... com ovos oferecidos. Há que aproveitar tudo. Não se estraga mesmo nada. Ah, e, quando andava a estudar, o meu arroz de atum foi um sucesso!

:)

mfc disse...

Uma óptima reflexão que nos alerta para os juízos precipitados sobre os outros!
As análises superficiais conduzem sempre a resultados injustos.

Eli disse...

mfc

Lá está, o meu primeiro pensamento pareceu-me o mais errado. Mas, só depois.

Buxexinhas disse...

Eu também fui assim educada... a Viver com o pouco mas com discernimento... Uma vez por outra faz-se uma excepção... Mas não regra... :) Há que Saber Viver... Beijinhos Eli***

Eli disse...

Buxexinhas

Em ti vi muito de mim, já. Então, quando me surpreendes com essa força e determinação, ainda me sinto melhor. És fantástica e já precisava de alguém assim, tão assim na minha vida.

:)