Agora nem nómada, nem emigrante.


segunda-feira, julho 30, 2012

O amor acontece #14 (por CurlyGirl)

«Acordei e Pensei em ti

"O tempo cura tudo", que frase parva. Basta olharmos para um cancro para saber que não é verdade, mas adoramos o conforto desta afirmação, a esperança que ela deposita no futuro, como se o presente fosse uma doença e o tempo o seu Betadine. No que ao amor diz respeito é certo ouvi-la no fim de uma relação ou proferi-la quando temos de acalmar quem está mais em baixo. Já o ouviste e já o disseste. Mentiram-te e mentiste (ainda que acreditando que essa mentira era verdade). O tempo não cura o amor, quanto muito, o amor cura o tempo, porque não há amor que não seja eterno. O amor vive do tempo, conserva-se no tempo, e afirma-se nele.
Hoje acordei, pensei em ti e resolvi escrever-te. Lembrei-me de quando te dizia "para sempre" e tu me respondias "para depois do sempre" e Álvaro de Campos (também ele eterno) nos chamava ridículos. Lembrei-me que no outro dia, o autocarro cheirava a ti e senti falta do teu "abraço forte". Não sei onde estás, com quem estás, como estás, e sei que não vais saber que há alguém que do seu quarto te fala de amor. Do amor que foi nosso, e que agora é meu e teu. Hoje sei que te amei, porque ainda te amo.
Amei-te durante a relação e amei-te no seu fim. Hoje sei que tudo o que fiz foi por amor, ainda que muitas vezes tenha achado que não e hesitado nas palavras. Escrevo-te, agora, por te amar. Nunca fui ciumenta, sempre achei que as algemas num namoro deviam estar apenas destinadas à cama e o tempo mostrou-me que tenho razão. O tempo mostrou-me que amor nada tem a ver com posse. Porque estou aqui e, mesmo sabendo que não fazes parte da minha vida, não preciso de fazer nada para te esquecer. Nunca precisei (até há bem pouco tempo conservava uma fotografia tua na minha carteira). Não quero encaixar nada no teu lugar, a tua pegada é tua e qualquer encaixe feito no espaço a que a ti te pertenceu não ficaria perfeito, ficaria apenas largo ou formaria rachas. Sinto-me feliz porque sei que tenho esta capacidade de te amar.

Apesar de tudo o que aconteceu, pode ser que o vento ou os sonhos, te levem estas minhas palavras. Não estou triste, muito pelo contrário, nem sequer sinto saudades. Sei que não me pertences e que eu não te pertenço. Sei que o amor é muito mais do que isso. Sei que as pegadas estão feitas. Sei que isto não precisa de cura. Sei que terás sempre um lugar.
Sei que ainda há espaço para mais pegadas, também elas eternas.»

CurlyGirl


P.S. Este blogue agradece a partilha e tem um enorme orgulho em publicar mais um texto sentido.

Eli

:)

Post agendado

8 comentários:

Isa Ribeiro disse...

simplesmente adorei! Mesmo!

CurlyGirl disse...

De nada, Eli. O Amor existe.

Brown Eyes disse...

Linda carta mas não sei se será de amor. Quem ama tem saudades e sente a falta mas, claro à formas diferentes de amar. Beijinhos. Boa semana

Eli disse...

Ciara

Que bom! Mesmo! Esta rubrica, para mim, tornou-se num sucesso!

:)

Eli disse...

CurlyGirl

E acontece!

(Obrigada eu.)

:)

Eli disse...

Brown Eyes

Obrigada, ainda vale a pena sentir! Para mim, sempre! :)

Rita Dinis disse...

como é possível a minha adolescência estar escrita num texto de uma pessoa que eu nem sequer conheço? pois é, tenho apenas 17 anos, e já vivi um grande amor, já me aconteceu tudo e mais alguma coisa, e como é possível vir pesquisar sobre o amor, e aparecer-me um texto tão maginifico como este, que me fez chorar rios e tempestades?
uau, adorei mesmo, isto só pode ser escrito com sentimento, e os meus enormes parabéns, está completamente fantástico.
parabéns, sou sua fã.
rita dinis

Eli disse...

Rita Dinis

Quem escreveu este texto foi a CurlyGirl e ninguém melhor do que ela para te responder. No entanto, posso afirmar-te que já por várias vezes também me identifiquei com palavras de gente que não conheço de lado nenhum. Faz sentido que este meio de comunicação sirva precisamente para isso, para sentirmos, nos identificarmos e encontrarmos também compreensão.

Obrigada pelo comentário!

:)