Agora nem nómada, nem emigrante.


segunda-feira, agosto 20, 2012

O amor acontece #17 (por S.)



«Revia todas as manhãs, tardes, noites, horas do nada, do tempo morto, vazio, as lições que as outras vidas ou histórias de fantasia lhe conferem, a juntar à sua...
Repetia o gesto, a palavra soberana, a fórmula certa, a chave, aquilo que julga entender e que intuitivamente entende a cada primeiro olhar cruzado...
Olha-se ao espelho, conta rugas, linhas em que se desdenha e que de pronto se corrige...foi vida...
Desde cedo tivera essa tendência, que alguns ajuizariam de narcísica de se olhar ao espelho...não para o corpo que assumiu já tantas formas, mas para o rosto especialmente...para a boca de lábio grosso, o nariz orgulhosamente empinado e enfim o manifesto reflexo da sua alma...os olhos avelã, de pestana parca e brilho dependente do estado do sentir...queria manifestamente, desde a primeira vez que tomou consciência desse gesto, decorar a sua cara em cada idade...ao ver-se hoje a entrar na barra da idade mais que madura, teórica, ainda se vê adolescente, apaixonada, noiva, casada, grávida, amante extasiada, desgostosa, só...como é possível desenlear filmes atrás de filmes em projecções de memórias ao olhar um rosto ao espelho...
Perde a conta do tempo, basta pouco para ser tanto e diz a si mesma, na voz inequívoca de Deus dentro, palavra de coração que a eterna questão que se coloca não tem fim...
Por teres nascido com asas, seria evidente que te enamorarias eternamente por pássaros...
Gostas de gaiolas? Não...pois não...nem nas douradas te manténs...
Então porque teimas em agrilhoar o sentir ao evidente equívoco de possuir?...
Se tu não és, nem nunca serás de ninguém para sempre, se já te levantaste após lamberes o corpo e a alma em feridas lancinantes, se constatas que tudo volta a acontecer, afinal o que julgas ter perdido quando te questionas olhos nos olhos contigo mesma?
O amor és tu...convence-te...»


S.

P.S. Conclui-se assim a aprensentação deste rubrica. Fiquei agradavelmente supreendida com a forma como enriqueceram este blogue. Muito obrigada.

Eli

7 comentários:

S* disse...

Mas que maravilha... o amor sou eu, pois claro!

Eli disse...

S*

Sabe bem ler assim um espelho.

:)

Manuel Luis disse...

O amor acontece em qualquer lugar, frente a um espelho onde te vez preenchida com tão pouco. O ouro é uma ilusão, sofrimento e guerra.
Tu és o amor!

Eli disse...

Fernando Santos

Obrigada em nome da autora!

:)

Eli disse...

Manuel Luís

Agradeço em nome da autora! :)

Linhas Cruzadas disse...

Obrigada por partilhares e 'me' escolheres...

S.

Eli disse...

Linhas Cruzadas

É recíproco! :))