Agora nem nómada, nem emigrante.


quinta-feira, agosto 01, 2013

Era

Durante o lançamento de um livro, Iara aproxima-se de Eva e diz-lhe com um um brilho nos olhos, que a faz olhar em volta e dar-lhe a mão.
- Gostei muito de a ouvir. Tem uma voz muito peculiar. Ideal para leituras em voz alta.
Eva respira e força um sorriso que se abre rasgando os lábios.
- Obrigada. - Larga a mão de Iara e senta-se numa das cadeiras vazias. as cadeiras são todas pretas.
Outrora, aquela sala tinha estado cheia com variadíssimos autores, que escreviam todos para um tema e um livro em comum. Convidavam familiares e amigos que os iam assistir, permanecendo para um breve convívio em que trocavam autógrafos.
- Eva, calculo que lhe seja difícil a minha presença.
- Oh... - Perdeu a voz para um embargo suficiente. - ... sente-se aqui.
- Quer tomar alguma coisa?
- Só se for algo bem forte.
Iara foi buscar duas bebidas aparentemente femininas, mas bem fortes. Cada uma sorveu o seu primeiro gole como se estivesse a ganhar coragem. Finalmente, olharam-se nos olhos e concordaram em tratar-se na segunda pessoa.
- Eva, eu tinha que vir hoje. O teu livro representa muito para mim. Confesso que não estava à espera de a ouvir. Já fui a algumas apresentações de livros, mas os autores ficam sempre acabrunhados, escondidos a um canto como se esse reserva os levasse a algum lado. Os escritores costumam ser tímidos, no meu entender.
- Eu nunca fui tímida. Quem escreve, refugia-se muitas vezes atrás da página, abstendo-se de dar o corpo. A imagem talvez não funcione...
Iara interreompeu a escritora.
- Esta história que escreveu retrata muito da vida de uma pessoa que me é muito querida.
- Conheceu a Eli?
- Era minha tia.
Eva desatou num pranto e deixou-se ficar ali a chorar a perda daquela que conhecera tão bem, mas que afinal ainda tinha muito para desvendar.


Escrito por Eli Rodrigues

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