Agora nem nómada, nem emigrante.


sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Pedras

Imagem de Eli

Como descrevo a sombra do vazio...?
Como edifico um chão frio...?
Era uma vez um homem. Alto, moreno, ora sério e triste, ora sempre com a piadinha inteligente na pontinha da língua!!! À sua volta todos se perguntavam o que pensaria aquele enigmático homem. Tão misterioso, tão senhor das suas próprias filosofias. Carregava no seu corpo o peso do sentir, do pensar, das vitórias, que, apesar de conseguidas, não lhe aliviavam o peso da alma.
Quase todos os dias subia uma montanha. Só. Gostava de sentir o silêncio e tomar o espaço como seu, deixar-se envolver pelas sensações... Queria libertar-se de seus pensamentos, por um momento que fosse, deixar o chão de terra negra que pisava, mas sentir o céu. Sem saber porquê, começou a atirar pedras... Atirava sempre pedras daquele lugar... quase deserto... Elas rolavam por entre árvores, orvalho, erva, flores, pesadelos, lágrimas... mas, nunca se conseguia libertar...
Era uma vez uma rapariga triste, cabisbaixa, mas apenas nas horas da solidão. Quando acompanhada, sentia em si uma alegria imensa e fazia rir os que a rodeavam... Era alta, sorridente, gorda, intuitiva... Um dia, nas horas de solidão, foi caminhar nas calçadas de terra batida do lugar limitado que podia percorrer.
De repente, sente uma rocha a bater-lhe no ombro. Era ligeiramente pequena, mas sentiu-a com tanta força, que tombou. Quando olhou à volta para ver de onde teria vindo, apenas encontrou chão. Pedras.
Via sempre as pedras com formas semelhantes e algumas voltaram a acertar-lhe enquanto se deixou estar. Queria saber quem as atirava... mas apenas via uma sombra.
Voltou no dia seguinte e no outro e todos os outros... Esperava horas naquele lugar, à espera de ler nas rochas o presente, enquanto pensava no passado, porque de futuro não era ela feita, apenas de sonhos.
Se são pedras, então gravas o que escreves.
Eli

:)


24 comentários:

Rui disse...

Sair da casca para dizer que gostei bastante. Mesmo.

Bird disse...

Como sempre escreves maravilhosamente...

Beijos para ti
(e tens uma resposta ao que perguntas...)

butterfly disse...

foto tua? gostei do texto...interessante...há vidas que se podem encontar assim naturalmente...e realmente se são pedras podemos gravar o que queremos...tem é de se escolhe muito bem o que devemos escrever...
Beijinhos!!

Anónimo disse...

E assim confirmas o que já dizia...

tens um enorme jeito p/ escrever estórias, inspiradas na vida é certo, mas que exaltam o sonho (: *

nqdn disse...

Porque será que as pessoas...Esquece! Eu não sei já o que digo.
Bom Carnaval!
Jinhos.
http://singular.blogs.sapo.pt/
http://calinadas.blog.pt/
http://racionalidades.blogspot.com/

Anónimo disse...

Olá, Eli!
Todos nós temos as nossas pedras, a forma como as interpretamos na caminhada que fazemos é que poderá ser diversa.
Gostei da forma como espressaste o teu pensamento!
Beijinho,

Nelsinho disse...

Minha montanha é escarpada e as trilhas penosas...
Eu a subo sempre que posso para contemplar-me.

Nelsinho

Anónimo disse...

Sorri...um texto deste não se comenta minha querida,estes textos sentem-se,respiram-se com quem gostamos,é um estar com....
Sabes no que pensei(porque isto gera,ah!promete que não te pôes com psicanálise,vá lá!)?
Quando penso em abstracto sou depois conduzida a algum lugar,assim uma vontade,sonho, intuição....
E então?...è impossível olhar para um tempo a que não perdi os pormenores mais infinitamente pequenos,de chuva,de horas,de tudo,caramba tenho uma memória razoável mas eu gravei tudo antes de descobrir que me era importante!
Estou a vir do geral e...chego agora aqui,a uma história que poderia ser minha,tua,eventualmente de muitos de nós que te lemos.
De um homem que conheci de longe,numa montanha?sorri,talvez,sózinho rodeado de gente,isso sem dúvida foi o que senti.
Olho sempre nos olhos todas as pessoas com quem falo,fugi deste olhar algum tempo,conheci-o de longe,a voz!!! com quem falei algumas vezes,eu sabia que não devia fazer o teste à minha intuição,pensava demasiadas vezes porque mexia comigo alguém que não conhecia!
Eu tinha um casamento acabado,socialmente desconhecido o facto estava definido que por uma questão profissional eu aguardaria o próximo concurso para ingresso numa carreira a que me propunha e a filha,perfeitameite conhecedora dos factos optaria uma vez que eu mudaria de terra.
Bem estou aqui a contar a minha história?Um cadinho,sorri,um passo em frentte à beira do abismo é que nunca se explica,acho que há alturas que a dor de saber que não há futuro doi menos que a espera de um caminho possível,de uma profusão de atalhos!
Depois há uma história incontável cheia de tudo que me liga a ele,escrita,que me alimenta e às vezes quase me mata porque um quase tudo que me cunduz á diatância de um abraço onde os braços não me chegam...e ..o quê?
Não sei...comentar ,não te disse?
Ninguém tem uma história tão linda como eu,sorri...e um dia conto-ta ando à procura da pedra mais bonita,mas para me sentar com ele,claro,as mais bonitas são como ao piano,improvisos ou não mas a quattro mãos...acho!
beijo
M

Eli disse...

O meu livro de comments serve para isso mesmo. Para escrever o que faz lembrar o leitor, o que sair na hora, tal como eu o faço. Fico tão contente com os comentários e agradeço-os a todos, mesmo.

:)

Cláudia Faro Santos disse...

Acho que todos temos um pouquinho desse homem enigmático e da rapariga triste...E também eu me sinto feita de sonhos, mas nunca me lembrei de perguntar às pedras as respostas!
Vou experimentar!
*
Bom fim de semana

inBluesY disse...

sem dúvida, extraordinário.
Obrigada :)

Paulo Ribeiro disse...

Tantas pedras como estas pisamos nós todos os dias. Elas de nada se queixam, elas nada dizem. Nem tudo são pedras de calçada.

rafaela disse...

Gostei muito Eli, assim a vida, feita de encontros que nunca o são.

Bom domingo *

Avó do Miau disse...

Escreves muito bem!
Beijihos.

K'os disse...

Gostei de tudo o que vi.

A foto é muito bonita, o texto excelente, de uma grande sensibilidade, de uma leveza e de uma simplicidade que me fascinou e prendeu.
Texto e foto estão em perfeita sintonia, um não passava sem o outro.

voltarei
:)

Cristina disse...

Passei para te desejar um Carnaval muito divertido
:)
Beijinhuu

Bird disse...

Eli...

Fiquei muito contente por ver tamanha inteligência a tua. Sabia que entenderias mas quero agradecer-te muito muito.

Beijos grandes. Hoje estou de corrida... também me toca às vezes estar longe :)

Misantrofiado disse...

...e finalmente as minhas pedras.
Eu... conheço esse que pedras atirava! Mas não é por ele propriamente a razão de aqui vir comentar!
Apenas te quero expressar um sentimento que por não estar habituado a olhá-lo de frente, nem to sei identificar enquanto nome de baptismo... estou... fiquei...
São pedras, árvores, flores, gotas de água, ervas, aquilo de que é composto a tua inspiração!

Anónimo disse...

Na ambiguidade da lição, ou lições que podemos tirar do teu texto, transparece sem dúvida o sonho...aquele sonho que nos camanda a vida para lá do que julgamos possivel...

És surpreendente...prendes-me aqui, ao teu cantinho!

Beijo meu!

Desambientado disse...

Eli.

Vim retribuir a tua simpática visita e acabei gostando do que vi.

Muita criatividade junta. Parabéns

nspfa disse...

Quem devia gravar o que escreve és mesmo tu...
:-)

Madeira Inside disse...

OLá Eli!!
Cada vez mais gosto do que leio!!
"Pedras"....que líndo!!
"Como descrevo a sombra do vazio...?
Como edifico um chão frio...?"

Beijinhos
:)))

Dive disse...

Hey...

Mais uma vez...belissimo texto :)

Anónimo disse...

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