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Estava a lavar as mãos, frágil, mal me segurava em pé, quando resolvi chamar por ele. Não me respondeu. Comecei a duvidar da sua espera, mas logo pensei que não iria embora sem mim. Foi então que ouvi uns passos e imaginei que devia ser ele.
Pela sombra no chão, reparei que não era. Comecei a sentir medo. Estava na casa de banho masculina e um homem desconhecido iria entrar. Pensei em andar o mais rápido que conseguia. Vi-o. Possuía uma grande estatura. Estava vestido com umas roupas sujas. Abriu um sorriso mórbido, negro. Assustei-me. Queria fugir, mas não tinha por onde. Parou junto à porta e olhou-me com os olhos esbugalhados de raiva. Cheguei-me para trás. Avançou com três passos firmes, agarrou-me nos pulsos e encostou-me à parede. Comecei a gritar umas vogais quase mudas. Pôs os seus pés em cima dos meus para que não me mexesse. Quando me largou um braço para me levantar a saia, dei-lhe uma bofetava com toda a força que ainda me restava. Ele fez-me o mesmo. Só que foi tanta a violência que caí no chão. Pensei em desistir. Comecei a chorar. Ele grunhia. Quando se baixou, dei-lhe um pontapé entre as pernas, rebolei-me e consegui sair dali. Escapar-me, escapar, pensava, pensava. Senti que ele não tinha vindo atrás de mim. Quando cheguei cá fora, senti o Sol forte a bater-me nos olhos e não conseguia ver. Mesmo assim não parei de correr pela praia fora. Quando senti a água do mar debaixo dos pés, olhei para trás, vi que estava sozinha, então deixei-me cair. A água fria ia e voltava. Sentia dores no corpo todo. O mar beijava-me a face. A água salgada misturava-se com o sangue. A pele ardia-me.
Não sei exactamente quanto tempo depois, o H apareceu e perguntou-me o que tinha sucedido. Não consegui falar, nem tampouco tinha forças para sair dali. A água tinha-me anestesiado. Era a primeira vez que tomava banho de mar num Inverno profundo. Levou-me até à areia seca.
H : Tinha ido buscar-te água. Toma, bebe.
E eu só consegui chorar no seu colo.
Eli
12 comentários:
O conforto sempre chega! É uma questão de tempo...
Os pesadelos também nos permitem "ver" que a vida afinal é bem melhor que o melhor dos pesadelos!
E quando assim é(eu disse, quando assim é...) está tudo bem.
Gostei do seu texto, curto, mas rico, quer na forma, quer na substância.
Acho que vou voltar para a ler mais.
Bom resto de Domingo.
Uma estalada e um pontapé? Se ela estava aflita dos intestinos era te-lhe mandado um peido valente!
Quem é esse H, afinal?
E já agora, com o novo acordo ortográfico, OTÁRIO escreve-se com H?
Beijinhos
PS: Já agora se voltares a passar pelo mesmo aconselho-te:
http://www.youtube.com/watch?v=z3vDTIeV2h8
mfc
Infelizmente, quanto maiores forem as provações, melhor nos sabe o tal conforto que chega sempre... ainda bem que alguns pesadelos não passam disso - imaginação.
:)
Eduardo Aleixo
Agradeço a sua leitura do meu texto e fico contente por querer voltar!
Rafeiro Perfumado
Tens sempre aquela palavra que faltava para completar o meu texto - o tal toque de humor. Mas, é só mesmo um toque, não é o telefonema todo!
:)
Pedro Gaivota
Qualquer semelhança com a realidade é coincidência! Isto trata-se de um "conto" ou tentativa disso, enquanto me der para o escrever. Olha, não era para ter sido, inicialmente, mas há coisas assim e adaptei-me à realidade do blogue e aos pedidos para continuar a escrever!
:))
Estou em pulgas, para seguir esse conto, mas deduzo que no seguimento de uma tempestade vem sempre uma bonança, por isso aguardo ansiosamente aquele momento "click" onde vamos levar a imaginação para porta fechada...lollll..
Conlincência que o pequeno almoço é só ás 10h00...BÔ NÔTE!!...
Muito bom Eli. Continua!!..
Beijokas
A minha sombra é a minha melhor companheira. Mete-se na agua e não se molha, não ralha comigo e nunca me larga apenas tem medo das nuvens.Ajuda-me a procurar o melhor local para dar o próximo passo.
Cumprimentos
Tou a gostar da história, embor este tenha sido um excerto um pouco trágico... mas como alguém tanbém já disse atrás depois da tempestade vem a bonança... e quando chega, sabe tão bem! :))
Obrigado pelas tuas visitas no meu espaço!
Gostei, mas posso subverter o teu texto? Em vez da tentativa de abuso do outro homem, tu estarias apenas irada com um tal H porque te tinha deixado sozinha na praia e estando tu prestes a ir embora, com acessos de raiva e morta de sede, eis que ele regressava, por fim, e ante a tua ira e reprovação ele respondia:
"Tinha ido buscar-te água. Toma, bebe." E tu só terias conseguido chorar no seu colo. ;)
O que tento dizer é que gosto sempre imenso de te ler, tens uma maneira muita própria de usar as palavras (eu sou mais terra-a-terra) mas por vezes também podemos transformar pesadelos em poéticos sonhos ;)
Bjs, Eli
nuvem doce
Que bom que gostaste! Volta sim e faz-te notar.
:)
Manuel Luís
A nossa sombra não é mais do que o nosso reflexo...
:)
Sus
Vamos lá ver o que sai da próxima vez! Obrigada eu por teres vindo e comentado. Não precisas de agradecer.
:)
Daniel Silva (Lobinho)
Podes comentar da forma como melhor entenderes. Eu leio tudo com atenção! Agradeço-te por leres o que aqui escrevo e por comentares também. É muito bom para mim ler os comentários atenciosos e sugestivos.
Eu também tenho o meu lado prático, o tal "terra-terra". No entanto, quando escrevo, não consigo evitar de deixar fluir a imaginação e a inspiração...
:))
Um pontapé entre as pernas? Que golpe baixo, atingir o sr nas partes baixas. Também ele deve ter ficado com dores de ''barriga''. lol
:))
em_segredo
em_segredo
Uma pessoa não se lembra de tudo!
:P
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