Imagem de Eli
Ele deixou a máscara permanecer assim, intacta.
Estivemos pouco tempo juntos. Desculpou-se dizendo que teria que acordar cedo. Fiquei ali, olhando todas as pegadas na areia e imaginando as histórias das pessoas que por ali passaram durante o dia.
No dia seguinte, fui fazer uma caminhada na areia à hora de almoço. Sentir o Sol de Inverno a bater na pele, tirar umas fotografias, a areia debaixo dos pés descalços, relembrar as sensações da noite anterior, escrever poemas com o pensamento... Até que o descobri atrás de uma grande rocha.
Eu : Estás aqui.
H : Estou.
Mexia com os dedos na areia... Fiquei logo a pensar por que é que não me tinha enviado uma mensagem a dizer que estava ali. A minha alma sorriu de alegria por o ver, mas fiquei com a sensação de que ele não queria ser encontrado. Custou-me eliminar o nó na garganta, mas acabei por conseguir questionar-lhe sobre a solidão. Então, disse-me:
H : Não quero falar.
Eu : Sendo assim, vou embora. Detesto incomodar.
Comecei a andar com o passo muito acelerado, assim como o meu coração. Senti-me tão estúpida e ridícula. Apressada, apressada. Só queria chegar a casa e voltar a casa, voltar, voltar, depressa, muito, muito depressa.
Quando estava a chegar ao calçadão, senti alguém a agarrar-me o braço. Sacudi-o imediatamente. Pela visão lateral, vi que era ele. Tinha-me alcançado. "Fugir" - palavra de ordem.
H : Espera.
Eu : Não.
Comecei a andar ainda mais rápido, quase a correr. Peguei na minha bicicleta e pedalei o mais rápido que pude. As minhas lágrimas ficavam cada vez mais frias com o vento que as secava... só queria que elas levassem o levassem do meu coração. Estava cansada de sofrer. Queria fugir. Cheguei perto da linha do comboio e a cancela estava fechada. Pensei em avançar, contornava os carros, precisava de parar, mas ouvia-o a correr. Os seus passos estavam cada vez mais próximos. Ouvia-os tão alto como o bater do meu coração. "Que faço? Que faço?!" - Perguntei-me já a soluçar. Queria fugir! Até que voltei a sentir a sua mão no meu braço. Tapei a minha face com as duas mãos e ficámos ali, imóveis enquanto o comboio passava numa velocidade tão alta... as carruagens passavam uma a uma como se cortassem a respiração. Recuperei o meu fôlego. Senti-me como se estivesse num filme e aquele momento acontecia muito mais devagar.
H : Voltas logo à noite?
Eu : Queres que eu volte?
H : Não foi isso que perguntei.
Eu : Sim.
H : Sim.
A noite chegou e ele não voltou.
Eli
11 comentários:
Será que vale a pena chorar por alguém que não nos quer, ou que nos quer de uma forma estranha? Ainda ando á procura da resposta....
Bom dia de S. Valentim
Ficção ou retrato de um quotidiano desconcertantemente ... triste!
... mas lindamente escrito.
Um abraço.
Querida Eli
Belíssimo mini-conto! O resto é a realidade.
Um beijo
Daniel
Gostei!
E pergunto o mesmo que o JP, valerá a pena gostarmos de alguém que não gosto de nós... tantas vezes investimos em alguém que não nos quer... e somos quase masoquistas, ao isnsitir na dor que isso nos possa provocar.
Beijo
Estou em crer que na maioria dos casos o amor não é correspondido.
É a vida...
Querida amiga, boa semana.
Beijos.
"Quase masoquistas"... Talvez, mas a verdade é que preferimos sempre sentir dor do que indiferença, porque a dor faz-nos sentir vivos, faz-nos sentir que estamos a viver e a aprender... Somos humanos, somos assim! "Vale a pena?" Talvez nao, porque sofremos, mas a verdade é que também não sabemos o que se passa do outro lado... Tá lindo,muito mesmo, mas triste! beijinho
Outra foto que me conquista:
Mini-safiras enfeitam solo marciano. Afofa a areia fofa.
JP (e Sus)
Sinceremente, acho que não vale a pena chorar por quem não nos quer. No entanto, quando há alguns indícios (como os da história) de alguém que parece querer, mas nem sempre demonstra... assim torna-se difícil.
Dizem que mais vale sofrer com um amor do que não ter amor nenhum para sofrer.
Adaptando para mim, acho que vale mais sonhar do que não sonhar!
:))
mfc
Ficção com uma pitada de realidade ou realidade com uma pitada de ficção?!
:)
Daniel
Leste o "conto" todo?
:)
Sus
Já respondi a minha opinião à tua questão (acima).
:)
Nilson
Não tenho informações suficientes para fazer um estudo, mas sei que muitos que sofrem por amor nunca o confessam (nem às paredes)!
:)
Ciara
Como nós conseguimos ver a beleza na tristeza... mas ainda bem que temos essa capacidade!
:)
Andre Martin
Ainda bem que gostas. Apraz-me sabê-lo.
:)
Ups. Afinal não quiseste. Grrr! Errei no palpite.
O trânsito nas noites de XXXX pode ser caótico. Talvez tenha ficado impedido de chegar à praia.
Oh pra mim a tentar antever a desculpa dele. :P
:))
em_segredo
em_segredo
Desculpas a mais, verdades a menos!
:)
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