Agora nem nómada, nem emigrante.


segunda-feira, fevereiro 14, 2011

H #7

Imagem de Eli


Eu : Não.

Ele deixou a máscara permanecer assim, intacta.

Estivemos pouco tempo juntos. Desculpou-se dizendo que teria que acordar cedo. Fiquei ali, olhando todas as pegadas na areia e imaginando as histórias das pessoas que por ali passaram durante o dia.

No dia seguinte, fui fazer uma caminhada na areia à hora de almoço. Sentir o Sol de Inverno a bater na pele, tirar umas fotografias, a areia debaixo dos pés descalços, relembrar as sensações da noite anterior, escrever poemas com o pensamento... Até que o descobri atrás de uma grande rocha.

Eu : Estás aqui.

H : Estou.

Mexia com os dedos na areia... Fiquei logo a pensar por que é que não me tinha enviado uma mensagem a dizer que estava ali. A minha alma sorriu de alegria por o ver, mas fiquei com a sensação de que ele não queria ser encontrado. Custou-me eliminar o nó na garganta, mas acabei por conseguir questionar-lhe sobre a solidão. Então, disse-me:

H : Não quero falar.

Eu : Sendo assim, vou embora. Detesto incomodar.

Comecei a andar com o passo muito acelerado, assim como o meu coração. Senti-me tão estúpida e ridícula. Apressada, apressada. Só queria chegar a casa e voltar a casa, voltar, voltar, depressa, muito, muito depressa.

Quando estava a chegar ao calçadão, senti alguém a agarrar-me o braço. Sacudi-o imediatamente. Pela visão lateral, vi que era ele. Tinha-me alcançado. "Fugir" - palavra de ordem.

H : Espera.

Eu : Não.

Comecei a andar ainda mais rápido, quase a correr. Peguei na minha bicicleta e pedalei o mais rápido que pude. As minhas lágrimas ficavam cada vez mais frias com o vento que as secava... só queria que elas levassem o levassem do meu coração. Estava cansada de sofrer. Queria fugir. Cheguei perto da linha do comboio e a cancela estava fechada. Pensei em avançar, contornava os carros, precisava de parar, mas ouvia-o a correr. Os seus passos estavam cada vez mais próximos. Ouvia-os tão alto como o bater do meu coração. "Que faço? Que faço?!" - Perguntei-me já a soluçar. Queria fugir! Até que voltei a sentir a sua mão no meu braço. Tapei a minha face com as duas mãos e ficámos ali, imóveis enquanto o comboio passava numa velocidade tão alta... as carruagens passavam uma a uma como se cortassem a respiração. Recuperei o meu fôlego. Senti-me como se estivesse num filme e aquele momento acontecia muito mais devagar.

H : Voltas logo à noite?

Eu : Queres que eu volte?

H : Não foi isso que perguntei.

Eu : Sim.

H : Sim.


A noite chegou e ele não voltou.


Eli

11 comentários:

JP disse...

Será que vale a pena chorar por alguém que não nos quer, ou que nos quer de uma forma estranha? Ainda ando á procura da resposta....

Bom dia de S. Valentim

mfc disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
mfc disse...

Ficção ou retrato de um quotidiano desconcertantemente ... triste!
... mas lindamente escrito.
Um abraço.

Daniel Aladiah disse...

Querida Eli
Belíssimo mini-conto! O resto é a realidade.
Um beijo
Daniel

IM disse...

Gostei!
E pergunto o mesmo que o JP, valerá a pena gostarmos de alguém que não gosto de nós... tantas vezes investimos em alguém que não nos quer... e somos quase masoquistas, ao isnsitir na dor que isso nos possa provocar.

Beijo

Nilson Barcelli disse...

Estou em crer que na maioria dos casos o amor não é correspondido.
É a vida...
Querida amiga, boa semana.
Beijos.

Isa Ribeiro disse...

"Quase masoquistas"... Talvez, mas a verdade é que preferimos sempre sentir dor do que indiferença, porque a dor faz-nos sentir vivos, faz-nos sentir que estamos a viver e a aprender... Somos humanos, somos assim! "Vale a pena?" Talvez nao, porque sofremos, mas a verdade é que também não sabemos o que se passa do outro lado... Tá lindo,muito mesmo, mas triste! beijinho

Andre Martin disse...

Outra foto que me conquista:
Mini-safiras enfeitam solo marciano. Afofa a areia fofa.

Eli disse...

JP (e Sus)

Sinceremente, acho que não vale a pena chorar por quem não nos quer. No entanto, quando há alguns indícios (como os da história) de alguém que parece querer, mas nem sempre demonstra... assim torna-se difícil.

Dizem que mais vale sofrer com um amor do que não ter amor nenhum para sofrer.

Adaptando para mim, acho que vale mais sonhar do que não sonhar!

:))




mfc

Ficção com uma pitada de realidade ou realidade com uma pitada de ficção?!

:)



Daniel

Leste o "conto" todo?

:)




Sus

Já respondi a minha opinião à tua questão (acima).

:)



Nilson

Não tenho informações suficientes para fazer um estudo, mas sei que muitos que sofrem por amor nunca o confessam (nem às paredes)!

:)



Ciara

Como nós conseguimos ver a beleza na tristeza... mas ainda bem que temos essa capacidade!

:)




Andre Martin

Ainda bem que gostas. Apraz-me sabê-lo.

:)

Anónimo disse...

Ups. Afinal não quiseste. Grrr! Errei no palpite.
O trânsito nas noites de XXXX pode ser caótico. Talvez tenha ficado impedido de chegar à praia.
Oh pra mim a tentar antever a desculpa dele. :P
:))


em_segredo

Eli disse...

em_segredo

Desculpas a mais, verdades a menos!

:)