...ter seguido uma das minhas ideias
de infância e devesse ter mesmo ido para hospedeira. Assim, as viagens seriam
normais. Ainda com a imagem das flores e dos cartazes de boas vindas no
pensamento, prossigo. Coloco os meus óculos de sol à saída e apanho um táxi até
à estação de comboio do Oriente – Lisboa.
O taxista não se interessa pela
minha expressão. Falo-lhe com sotaque açoriano só para que me faça sentir
entretida.
- Ah! É micaelense!
- Conhece a ilha?
- Fui lá com a minha patroa para
umas férias que a nossa filha nos pagou.
Os meus lábios contraem-se e ameaço
sorrir. Imagino como deverão ter sido as férias daquele simpático senhor e
lembro-me do azul! Ai… que saudades do azul…
Silêncio.
Aumenta o volume do rádio.
Gosto da música… não reconheço o
que ouço, mas soa-me bem. Uma banda sonora com guitarra clássica, que me faz
ver Lisboa como se fosse a primeira vez. Aquele dedilhar arrepia-me de tal
forma que a primeira lágrima teimosa cai, deixando-se mostrar.
O taxista apercebe-se da minha
emoção e dá-me um lenço para a mão. Curioso… um lenço de pano, imaculadamente
limpo e dobrado. Sinto um bordado debaixo dos dedos, reparo melhor… tem um “F”
desenhado.
- Obrigada. – Agradeci num fio de
voz, devolvendo-o.
- Ora essa. Fique com ele, faço
questão.
Uma nuvem cinzenta pairava ao longe
e brincava com a realidade apressando-se quando olhei para ela.
Lembrei-me de outras nuvens que
tinha fotografado nessa mesma última viagem de avião. Curioso, lá em cima as
nuvens eram sempre brancas.
- Estamos a chegar. Deseja mais
alguma coisa.
Desta vez abri um sorriso.
- Desejo sim.
- Diga, se faz favor.
- Desejo agradecer-lhe muito pela
tua atitude e faço questão de lhe devolver o lenço… quiçá haverá por aí mais
moças desamparadas e independentes como eu a precisar.
Perguntei-lhe quanto era, paguei e
saí, deixando-o ali. Não me sentia a merecer um lenço que parecia ser tão
pessoal.
(continua)
Eli
4 comentários:
O mundo roda muitas vezes cruel, outras todavia um lampejo de verdadeira simpatia e altruísmo e o lenço, bem, nestes dias nem todos andam com um lenço com F de nome de gente no bolso,
NR
Pois não, por isso gosto de escrever histórias para associar pormenores peculiares a personagens aparentemente pouco estranhas. :))
Ainda há gente simpática...
No passado, também quis ser hospedeira ...pela aventura e porque achava que eram todas bonitas...
Bjs
Graça
Graça
Ou então andam (andavam) todas elegantes... :))
Enviar um comentário