Estivemos a conversar um pouco.
Desta vez não imitei o sotaque micaelense, senão teria muito que explicar.
Ele reparou que eu estava muito
cansada para fazer conversa, quando olhei pela janela e não lhe respondi
prontamente.
Esboçou um sorriso e pediu-me
desculpa. Disse que se sentia sozinho há muito tempo por não ter ninguém com
quem falar português.
Fiquei logo com muita pena dele,
mas também de mim. Eu pensava precisamente o mesmo. Não falava com ninguém,
havia algum tempo, mas no meu caso a culpa era minha. Tinha sempre medo que
percebessem o meu estado de espírito. Esse receio estava tão camuflado que nem
eu mesma reparava na sua existência.
- Reparei na grande mala que
trazias. Nunca tinha visto uma tão enorme. – Fez uma pausa, gesticulou e
prosseguiu. – Dava-me jeito uma assim, em vez de ter que andar com duas. Posso
saber onde é que a compraste?
- Já nem me lembro bem…
Peguei nos fones, coloquei-os nos
ouvidos e ele calou-se.
Fiquei com muita pena de mim mesma.
Já não conseguia sorrir e ser simpática como antigamente.
(Continua.)
Eli
2 comentários:
Às vezes, é dando atenção aos males dos outros que...curamos os nossos.
Graça
Graça
Terapeutico... :)
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