Agora nem nómada, nem emigrante.


domingo, maio 12, 2013

Francisco #6







Estivemos a conversar um pouco. Desta vez não imitei o sotaque micaelense, senão teria muito que explicar.
Ele reparou que eu estava muito cansada para fazer conversa, quando olhei pela janela e não lhe respondi prontamente.
Esboçou um sorriso e pediu-me desculpa. Disse que se sentia sozinho há muito tempo por não ter ninguém com quem falar português.
Fiquei logo com muita pena dele, mas também de mim. Eu pensava precisamente o mesmo. Não falava com ninguém, havia algum tempo, mas no meu caso a culpa era minha. Tinha sempre medo que percebessem o meu estado de espírito. Esse receio estava tão camuflado que nem eu mesma reparava na sua existência.
- Reparei na grande mala que trazias. Nunca tinha visto uma tão enorme. – Fez uma pausa, gesticulou e prosseguiu. – Dava-me jeito uma assim, em vez de ter que andar com duas. Posso saber onde é que a compraste?
- Já nem me lembro bem…
Peguei nos fones, coloquei-os nos ouvidos e ele calou-se.
Fiquei com muita pena de mim mesma. Já não conseguia sorrir e ser simpática como antigamente. 

(Continua.)

Eli

2 comentários:

Graça Pereira disse...

Às vezes, é dando atenção aos males dos outros que...curamos os nossos.
Graça

Eli disse...

Graça

Terapeutico... :)