Agora nem nómada, nem emigrante.


domingo, fevereiro 06, 2011

H #5


E os dias foram passando. Uma semana... e nada. Eu não conseguia esquecer-me por mais que tentasse. Remendava o meu coração entre a palpitação e os batimentos secundários. Esperava.  Desesparava. Nove dias depois, ele apareceu com aquele sorriso do costume. Quase sem máscara, confessou que se tinha lembrado de mim, na ausência, explicando-se logo com uma urgência familiar.

Eu não podia cobrar... embora tivesse uma enorme vontade de o fazer, não optei por esse acto castrador. Ele resolveu contar-me sobre a sua vida. Fiz-lhe algumas perguntas que nunca tinha feito. O seu estado civil começou a ter um grande peso. Então, lá fiz essa questão um pouco a medo e ele ofereceu-me um silêncio inquietante...

H : (...)

Pela primeira vez, fiquei sem saber o que dizer. O meu desespero fez-me pensar que ele era casado e aquela dança em que mergulhei teria que parar imediatamente. Senti-me traída e comecei a imaginar uma família por detrás das suas ausências. A sua música, que ainda entoava na minha cabeça, parou finalmente, diante daquela escuridão. Mil pensamentos, mil hipóteses. Então, pegou na minha mão e, uma lágrima escapou-se dos seus olhos quentes de mel.

H : Viúvo.

Foi nesse momento que engoli em seco todas as minhas palavras ocas, todas as minhas dúvidas existenciais, todo o meu sofrimento. Respeitei o seu silêncio. Soltei a mão.

Olhei em volta, senti o lugar. Havia muita gente à nossa volta. Os casais passeavam de mão dada, as famílias sorriam à volta das crianças e eu, voltava a ser eu. Descalcei-me e fitei as ondas com os pés.

Eli

:)

12 comentários:

mfc disse...

Gostei imenso do parágrafo final... um sinal inequívoco de decisão madura!

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
JP disse...

Muita gente daria tudo para poder voltar a viver uma história de amor! Eu... não sei...

bjs e boa semana!

Olga Mendes disse...

Gostei muito. Não precisavamos sofrer por antecipação...

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Eli disse...

mfc : Obrigada por me dizeres isso. É bom saber que estas ideias apresentam algum tipo de maturidade.



JP : Não sei quem é muita gente, mas enquanto não sarámos as feridas antigas, não estamos preparados para as novas... Obrigada pelas tua partilha de ideias.


Olga : Não percebi porquê. Podes dizer-me, sff.



Os comentários que apaguei dos Anónimos eram PUB, pois todos os comentários, sejam críticas ou não, são bemvindos!

:)

Gonçalo disse...

Hummm...este blogue está a ganhar de novo a projecção que já teve e que sempre mereceu!

Editoras do meu país, prestem atenção ao endereço deste blogue e concretizem um sonho.

Vou continuar atento à estória...

:)

Natália Augusto disse...

Que lindo Eli. Muito lindo!

Beijo

Daniel C.da Silva disse...

A presença é sempre mais notada na ausência! E os juízos que fazemos podem ser o eco que depois temos. Como na história.

Bj

Eli disse...

Gonçalo : Obrgada por este sorriso em forma de palavras e pelo teu sempre considerável apoio.



Natália Augusto : Obrigada. Ainda bem que gostaste!



Daniel Silva (Lobinho): Às vezes as histórias além de trazerem um pouco de nós, também nos devolvem em parte do que lhe demos! Obrigada.

:)

Anónimo disse...

Mais um episódio, um capitulo... e as revelações e emoções continuam em alta.
:))


em_segredo

Eli disse...

em_segredo

:))

E a saga continua...