Agora nem nómada, nem emigrante.


sábado, fevereiro 22, 2014

Procura




Fui. (Finalmente.) Estava um dia soarengo de calor. Também noutra busca de outrora tinha saído com tempestade e, quando o procurei, apareceu um Sol radiante de maio que fora realmente solidário. Mas, isso já lá vai e para que não se fosse contigo, lá fui. Não sei bem ao certo como foi aquela viagem atribulada, por ruelas e vias conduzi... Imagens deturpadas me aparecem na mente, como todas as memórias que tentamos relembrar e que nunca foram bem definidas, como rostos, como o do outro! Mas, cheguei ao final daquela viagem com calor, procurei a pé, óculos e Sol e cabelo amarrado. Encontrei um vizinho teu que parecia criar galinhas, ou pelo menos devia ter umas duas ou três dado o estado explorado do terreno. O cheiro também o denunciava. Ele levantou os olhos do livro que lia por me ver ali, com curiosidade. Não me tinha visto por lá antes. Vero. Só daquela vez ali estive para te procurar. Meteu conversa comigo. Não sei o que disse. Tinha que estar atenta à tua casa. Poderias ter uma chaminé, eu não sabia se conseguiria confirmar que era ali que moravas. Desdobrei-me em cuidados com o velhote e ele percebeu-me, quase nem parei, segui cuidadosamente quando vi um carro chegar. Dois homens. Um mais velho, que tinha vindo a conduzir, saiu do caso sem pressa e sem se apressar, normalmente, como se nem viesses lá também. Deixei-me estar a aguardar tentando ver, com dúvidas, com medo, se serias tu. Tive medo de não me lembrar do teu rosto, de não te reconhecer. Isto tudo em segundos de intensidade. Eu sabia que tu nunca me reconhecerias e vivemos numa selva, por isso eu poderia ser qualquer uma a passar na rua. Disfarcei bem. Segundos depois do mais velho se dirigir à vivenda, com muita calma, segurando primeiro no tecto no carro para ter apoio, foste saindo. Logo pensei: se ele mancar, é ele. Tinha-te visto dentro do carro, olhei-te de soslaio, parecias tu, mas com os reflexos no vidro, ainda me causava mais estranheza e dúvida. Eu não podia olhar fixamente para não me denunciar. As lentes dos meus óculos estão a precisar de aumentar graduação, já não tenho a nitidez no olhar, a qual tive outrora e da qual tenho muitas saudades. À parte disso, esta última palavra da última frase dá-me tanto de ti, que nada tenho, sabes, não sabes?! Então, deixa-me contar o resto. Lentamente, saíste do carro e no teu novo vagar cambaleaste um pouco até teres encontrado posição no andar, manco, como eu sabia. Mais à frente, vi-te com uma muleta improvisada. Via-se mesmo que não a tinhas como tua, ainda. Não falámos. Não iria interferir.

Eli




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